As modalidades de corrida que abrangem as longas distâncias, tais como as maratonas, ultramaratonas, corridas de montanha e corridas de aventura tem crescido de forma acelerada em nosso meio. Muitos dos praticantes destas modalidades estabelecem metas de rendimento a prazos curtos e com preparos inadequados para disputarem competições.
Provas duradouras exigem uma longa base de aprendizado tecnico, periodização de treinamento adequado e apoio nutricional, dentre outros cuidados.
As complicações clínicas decorrentes do excesso de atividade muscular em condições adversas podem ser preocupantes e muitas vezes graves para a vida do esportista.
A Rabdomiólise (RM) e uma síndrome caracterizada por uma destruição das fibras musculares esqueléticas e que resulta na liberação dos constituintes intracelulares das fibras para a circulação sanguínea.
Os elementos liberados para o sangue são os eletrólitos (sódio, potássio, cálcio, fosfatos, uratos), as mioglobinas (proteínas transportadoras e armazenadoras de oxigênio intracelular nos músculos), e as proteínas do músculo como a creatinoquinase (CK) e a aspartato aminotransferase (TGP). A quantidade de mioglobina e de CK no sangue representam uma medida do grau de lesão muscular causada pela RM.
A RM apresenta gravidades variáveis e dependentes da massa muscular comprometida e pode causar complicações para o sistema renal, pois o excesso de mioglobina leva à obstrução dos túbulos renais, causando isquemia e lesão tubular, culminando com uma insuficiência renal aguda. A insuficiência renal aguda e uma das complicações relativamente frequentes da RM e em casos raros, pode ate mesmo levar à morte.
Os sinais e sintomas da RM são:
– cor da urina escura, vermelho ou cor de coca-cola (mioglobinúria);
– redução do volume de urina;
– fadiga, dores musculares e fraqueza generalizada;
– rigidez muscular e dores articulares;
– dosagem de enzimas musculares elevadas no sangue (CK muito elevado);
– desequilíbrio dos eletrólitos no sangue mais frequente: potássio elevado (hipercalemia), fosfato elevado (hiperfosfatemia), cálcio baixo (hipocalcemia), – ácido úrico elevado (hiperuricemia).
O exercício físico extenuante e prolongado e descrito como um dos fatores desencadeantes da RM e está relacionado às condições climáticas desfavoráveis, como temperaturas muito baixas ou nas altas temperaturas com alta umidade, associadas a hidratação e reposição de eletrólitos inadequadas.
Há muitas outras causas relacionadas ao aparecimento da RM, tais como:
– traumatismo muscular direto, lesões por esmagamento, quedas e acidentes;
– síndrome compartimental aguda dos membros inferiores após fraturas;
– queimaduras graves e extensas, lesões por choques eletricos ou raios;
– infecções virais: vírus da gripe A e B, Coxsackie, vírus epstein-Barr, Herpes;
– simplex, parainfluenza, adenovírus, echovirus, HIV e citomegalovírus;
– infecções bacterianas que podem causar septicemia e acúmulo de toxinas nos músculos;
– convulsões;
– estado de coma, com tempo de compressão muscular prolongado, causado pelo estado de inconsciência devido a uma doença, alcoolismo, medicamentos ou overdose de drogas (cocaína e anfetaminas);
– imobilizações prolongadas;
– picadas de insetos e venenos de cobra, pois liberam enzimas chamadas de proteases e fosfolipases, podendo causar hemólise (destruição de glóbulos vermelhos), lesão muscular e necrose de tecidos;
– doenças endócrinas como a diabetes, o hipotireoidismo e o hiperaldosteronismo;
– doenças geneticas, como deficiências congênitas das enzimas musculares (deficiências enzimáticas mitocondriais) e a distrofia muscular;
– doenças autoimunes: polimiosite e a dermatomiosite.
Atenção redobrada durante as atividades físicas intensas e de longa duração.
Bons treinos!
Dr. Cristiano Frota de Souza Laurino
Mestre e especialista em Cirurgia do Joelho e Artroscopia pela UNIFeSP
Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do esporte (SBRATE)
Diretor Medico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT)
Ortopedista do Clube de Atletismo BM&F/BOVeSPA