A literatura medica tem demonstrado há algum tempo que a atividade física e capaz de promover a saúde humana. O que não se conhece de fato e a quantidade de exercício necessária para promover saúde e aumentar a longevidade. Outra pergunta interessante seria: “A saúde e a longevidade são diretamente proporcionais ao aumento do volume ou intensidade dos exercícios físicos?”
Pesquisas recentes demonstram que a quantidade de exercícios necessários para se obter saúde e aumentar a longevidade e menor do que se imaginava. A ideia de que quanto mais exercício melhor, não necessariamente significa um incremento na saúde ou na longevidade.
Durante o Congresso da American College of Sports Medicine 2012 em São Francisco, pesquisadores da Universidade South Carolina em estudo multicêntrico, examinaram a associação entre a corrida e todas as causas de mortalidade.
Foram avaliados 52.656 indivíduos adultos, sendo 74% do sexo masculino, com idades entre 20 e 100 anos (media de 43 anos), que realizaram exames medicos durante o período de 1971 e 2002, como parte de um estudo longitudinal (Aerobics Center). Cada participante completou testes físicos e questionários de atividade e retornaram para pelo menos uma visita de reavaliação.
Os participantes do estudo não apresentavam doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, alterações eletrocardiográficas anormais ao repouso ou durante o exercício e foram seguidos por no mínimo 1 ano. A corrida e outras atividades foram descritas em questionário preenchido pelo próprio indivíduo, descrevendo suas atividades físicas durante os últimos 3 meses.
Os pesquisadores identificaram que aproximadamente 27% dos participantes reportavam correr regularmente, embora dentro de uma grande variedade de distâncias e ritmos diferentes.
Durante uma media de seguimento de 15 anos, foram registradas 2984 mortes, com aproximadamente 27% dos adultos que praticavam corrida. A incidência de morte entre os indivíduos que corriam foi menor do que aqueles que não corriam. Os corredores apresentaram 19% menos risco de qualquer causa de mortalidade quando comparado aos não corredores.
Os pesquisadores tambem identificaram que a corrida com moderação promoveu a maioria dos benefícios de saúde e longevidade.
A corrida praticada entre 1.6 e 32 km por semana, num ritmo medio de 6.3 a 6.9 min/km reduziu o risco de morrer durante o estudo de forma mais eficiente do que aqueles que não corriam, aqueles que corriam mais do que 32 km por semana, ou aqueles que corriam em ritmos superiores a 5.30 min/km.
estes dados indicam que correr mais e num ritmo mais rápido não e necessário para promover mais saúde ou reduzir o risco de morte.
estes dados significam que correr menos está associado com uma maior proteção ao risco de mortalidade e que correr mais ou com ritmos elevados pode ser pior para a longevidade.
Outro estudo conduzido por pesquisadores dinamarqueses que coletaram dados do Copenhagen City Heart Study, constataram em 27 anos de informações que os indivíduos que praticaram 1 a 2,5 horas por semana de “jogging”, com ritmo lento ou medio durante o período de estudo apresentaram longevidade maior do que os sedentários ou aqueles corredores com maior velocidade. Aumento medio da expectativa de vida de 6.2 anos para os homens e 5.6 anos para as mulheres.
Um estudo publicado no Lancet em 2011 que avaliou 416.175 Taiwaneses adultos, identificou que a prática de 92 minutos por semana de exercícios moderados, como caminhada, trotar ou pedalar leve, aumentaram a expectativa de vida em 3 anos e diminuíram o risco de mortalidade de qualquer causa em cerca de 14%. Para cada 15 minutos a mais por dia alem dos 92 minutos por semana, os índices de mortalidade caíram, mas somente mais 4%.
em que ponto os exercícios se tornam contra-produtivos no sentido de promover a longevidade permanece incerto.
Ate o presente momento, os dados das pesquisas sugerem que a caminhada e a corrida lenta são ambos beneficos para a saúde e aumentam a expectativa de vida, mas com exercícios mais vigorosos ou prolongados, os benefícios podem ser questionáveis.
estes estudos não devem desencorajar as pessoas que se satisfazem em correr longas distâncias ou correr rápido e não apresentam os efeitos negativos das lesões.
Muitos estudos com nível de evidência maior são necessários para responder definitivamente a pergunta que fizemos no título deste artigo.
A mensagem e que devemos pensar cedo na vida em tentar prolongá-la com saúde. Cuide do seu corpo, corra com inteligência, moderação e aumente sua longevidade!
Dr. Cristiano Frota de Souza Laurino
Mestre e especialista em Cirurgia do Joelho e Artroscopia pela UNIFeSP
Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do esporte (SBRATE)
Diretor Medico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT)
Ortopedista do Clube de Atletismo BM&F/BOVeSPA