Ontem, dia 09 de fevereiro, o site do Globo Esporte divulgou a notícia sobre a cirurgia que o Quarterback do Kansas City Chiefs terá que passar. Segundo a notícia, o procedimento cirúrgico irá reparar uma lesão sofrida em janeiro, na placa plantar do dedo. Confira aqui a notícia na íntegra.
Otaviano de Oliveira Júnior, membro da SBRATE – Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte e da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPÉ), comenta o procedimento. Confira!
Lesão do atleta Patrick Mahomes, “quarterback” do Kansas City Chiefs
Uma das situações mais difíceis para um traumatologista do esporte são as lesões de tratamento “borderline” em atletas de alto desempenho e numa fase final e decisiva de competições, como a vivenciada recentemente pelo atleta Patrick Mahomes, “quarterback” do Kansas City Chiefs, agora no final da temporada 2020/2021 da NFL.
Baseado em notícias publicadas na imprensa, o atleta apresentou um trauma descrito como “torf toe”, onde ocorre a ruptura capsulo ligamentar da placa plantar na articulação metatarso falangeana (MttF) do hálux, durante um movimento súbito de hiperextensão do mesmo com o pé em uma posição equina e preso na grama, com uma força axial, comum em disputas como as vivenciadas no futebol americano.
Imagem: Aspecto clínico de um atleta com “Torf toe”.
Fonte: arquivo pessoal Otaviano de Oliveira Jr.
Imagem de RM demonstrando a ruptura da placa plantar na MttF do hálux em um atleta com “Torf toe”.
Fonte: arquivo pessoal Otaviano de Oliveira Jr.
As lesões são classificadas em três graus de gravidade. No grau 1, onde ocorre uma entorse leve na MttF do hálux, o atleta geralmente consegue se manter em atividade durante o tratamento, adaptando-se ao uso de bandagens e controlando a dor com analgésicos e anti-inflamatórios. Nas lesões de grau 2, com uma ruptura parcial do forte complexo capsulo ligamentar da região plantar, mas ainda mantendo estabilidade articular, o atleta já necessita se dedicar mais ao tratamento, ainda predominantemente conservador. O grande problema são as lesões de grau 3, onde ocorre uma ruptura capsulo ligamentar na região plantar da MttF do hálux, podendo também atingir as estruturas mediais ou laterais da articulação, muitas vezes com franca instabilidade articular e em alguns casos com a migração proximal dos sesamóides do hálux. Essas lesões podem necessitar do tratamento cirúrgico para se evitar, quando não adequadamente tratada, a evolução para um processo degenerativo precoce da articulação (hálux rígidus pós-traumático) ou com deformidades adquiridas (hálux valgo pós-traumático), muitas vezes limitantes para a biomecânica e a performance do atleta.
Quando o médico do esporte está diante de uma lesão grave, como uma fratura instável, onde não se restam dúvidas em relação à necessidade de imediato tratamento e de veto ao atleta para a adequada resolução, por incrível que pareça, é uma situação de mais fácil condução. Porém, em situações onde existem opções de tratamento, seja de forma ortopédica conservadora ou cirúrgica, ou a possibilidade de se adiar um tratamento definitivo sem comprometer a saúde do atleta, ficamos sempre com aquela dúvida sobre qual seria o melhor caminho. O momento da competição, a idade e o perfil do atleta, bem como fatores econômicos e a especificidade do esporte, podem trazer situações complicadas para o departamento médico.
Essa é uma questão que deve ser obrigatoriamente compartilhada entre o departamento médico, o atleta, a comissão técnica e a diretoria de clubes ou seleções, em se aproveitar ou não o atleta. O sucesso ou o fracasso deve ser dividido entre todos, pois sabemos que o atleta vai ter uma perda técnica e de performance, mas desconhecemos até que ponto esse risco vai valer a pena. A decisão tomada, por mais questionada que possa ser, deve ser assumida por todos, independentemente do desfecho final. Além disso, o adequado registro em prontuário médico deve ser sempre realizado, até mesmo para fins jurídicos e de eventual questionamento futuro. A mensagem que fica é que ganhamos ou perdemos juntos, como um todo.
Referências:
3) https://www.nfl.com/news/chiefs-patrick-mahomes-suffering-from-turf-toe-not-100-percent
4) McCormick JJ, Anderson RB. Turf toe: anatomy, diagnosis, and treatment. Sports Health. 2010;2(6):487-494. doi:10.1177/1941738110386681
5) Najefi AA, Jeyaseelan L, Welck M. Turf toe: A clinical update. EFORT Open Rev. 2018;3(9):501-506. Published 2018 Sep 24. doi:10.1302/2058-5241.3.180012
6) York PJ, Wydra FB, Hunt KJ. Injuries to the great toe. Curr Rev Musculoskelet Med. 2017;10(1):104-112. doi:10.1007/s12178-017-9390-y