Por Sandro Reginaldo
A epicondilite lateral caracteriza-se por uma dor na região lateral do cotovelo, na topografia do epicôndilo lateral, que piora com a extensão do punho contra uma resistência (teste de Cozen). É sete a dez vezes mais frequente do que no epicôndilo medial.
Do ponto de vista do diagnóstico por imagem, as radiografias na maioria das vezes não apresentam alterações significativas. A ultrassonografia e a ressonância magnética são mais indicadas para uma melhor avaliação das tendinopatias , rupturas parciais ou totais. Como diagnóstico diferencial, pode ocorrer a compressão do nervo interósseo posterior, plicas sinoviais, instabilidade póstero-lateral, artrose e cervicobraquialgia.
Com relação especificamente à epicondilite lateral em tenistas, objetivo principal deste conteúdo, e seguindo a filosofia da SBRATE de “um esporte, um gesto, uma lesão”, importante citar o artigo de revisão do JAAOS de 2015 (Tennis Injuries: Epidemiology, Pathophysiology, and Treatment) no qual Dines J.S. e cols. descrevem que o movimento de backhand com os punhos fletidos é o mecanismo mais comumente envolvido (foto1).
Gescheit DT e cols (Br J Sports Med 2017) avaliaram as lesões nos tenistas profissionais que jogaram os Grand Slams Australia Open de 2011 a 2016. As lesões mais frequentes nas mulheres foram em ombro, pé, punho e joelho, enquanto nos homens, joelho, tornozelo e coxa. Como se percebe neste estudo, as lesões em cotovelo nos tenistas profissionais não são as mais frequentes e a explicação para isso pode ser justamente uma correta execução do gesto esportivo nestes atletas. E a correção do gesto esportivo pode ser o principal desafio para o tratamento dos tenistas amadores, principalmente aqueles que não tem acompanhamento com aulas periódicas. Outro fator também importante é a tensão das cordas da raquete. Uma tensão excessiva é fator predisponente para a epicondilite lateral.
Em relação ao tratamento, além das medidas já citadas do gesto esportivo e tensão das cordas, deve-se orientar o atleta em relação ao uso de bolas novas e modelo adequado de raquete. O uso de medicamentos analgésicos e antiinflamatórios, fisioterapia, terapias por ondas de choque, laser de alta intensidade (BTL), infiltração com corticoides, plasma rico de plaquetas e acupuntura também estão indicados no tratamento clínico.
Em uma revisão da Cochrane de 2005 para avaliar a Terapia por Ondas de Choque (TOC) na epicondilite lateral, Buchbinder R. e cols. avaliaram 9 trabalhos com mais de mil pacientes comparando a TOC com grupo placebo, não tendo evidência significativa de melhora no grupo tratado, sendo que em um trabalho comparando a TOC com infiltração, esta última teve melhores resultados.
Tang H. e cols. fizeram uma revisão sistemática para avaliar a eficácia da acupuntura nesta afecção. Conseguiram um baixo número de trabalhos e com metodologia ruim e não encontraram evidências do efeito da acupuntura na epicondilite lateral.
O tratamento por meio de injeção com ácido hialurônico pode ser uma alternativa em dores moderadas, porém a literatura sobre o tema ainda é escassa.
Infiltrações com corticóides, plasma rico em plaquetas e toxina botulínica tem uma escassez de evidência para uso na epicondilite lateral.
O agulhamento seco guiado por ultrassonografia pode ser uma opção de tratamento, mas também com poucos trabalhos publicados.
Vídeo: Punção com Dry Needling em epicondilite lateral. Agradecimento ao Dr. Monres (GO)
Caso o tratamento clínico não apresente resultado satisfatório, a cirurgia é uma opção. As técnicas cirúrgicas por via aberta ou por artroscopia apresentam resultados semelhantes e a escolha é feita pela experiência e familiaridade do Ortopedista com a respectiva técnica. Em trabalho prospectivo e randomizado publicado pela Arthroscopy em 2018, com nível II de evidência, Tod Clark F.R.C.S.C. e cols. demonstraram não haver diferença nos resultados funcionais entre a artroscopia e a cirurgia aberta (fotos cirurgia aberta e vídeos de artroscopia).