O Papel da Ressonância magnética no diagnóstico da síndrome compartimental crônica do exercício

Resumo e comentários feitos por André Pedrinelli e André Asperti

O Papel da Ressonância magnética no diagnóstico da síndrome compartimental crônica do exercício

Radiologia Fleury
RBO, 2020

Confira aqui o Artigo na íntegra 

INTRODUÇÃO

A síndrome compartimental é definida como: desequilíbrio entre conteúdo e continente que leva à hipoperfusão tecidual. Classicamente é dividida em síndrome compartimental aguda e crônica. A síndrome compartimental crônica é conhecida como síndrome compartimental induzida pelo exercício (SCCE), sendo responsável por 25% dos casos de dor na perna relacionada ao exercício. Essa patologia é muitas vezes subdiagnosticada. Em média, seu diagnóstico é feito 2 anos após início dos sintomas. Em relação à epidemiologia, a SCCE ocorre classicamente em atletas jovens, de alto rendimento e de forma bilateral. Apesar de as pernas serem acometidas em 95% dos casos, a SCCE também pode ocorrer nos pés, mãos e antebraço. Estudos mais recentes demonstraram que atletas de baixo rendimento e indivíduos mais velhos também podem apresentar SCCE. Estudo com mais de 300 casos mostrou que 14% dos casos ocorreram em indivíduos com mais de 50 anos.

QUADRO CLÍNICO

O quadro clínico é, na maioria dos casos, insidioso. O atleta queixa-se de dor reproduzida pelo exercício e diz que cessa após alguns minutos de repouso. É comum o atleta descrever precisamente o momento da corrida ou do treinamento em que a dor aparece. Frequentemente o limiar para o aparecimento da dor vai diminuindo com o agravamento do quadro. Como mencionado anteriormente, 85% dos casos são bilaterais. É importante realizar um exame neurológico detalhado. Pode haver parestesia e fraqueza decorrente do acometimento do nervo no compartimento afetado. Por exemplo, acometimento do nervo tibial posterior na síndrome compartimental do compartimento posterior profundo da perna.

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Na avaliação da dor na perna relacionada ao exercício, é fundamental excluir os diagnósticos diferenciais. São eles: síndrome do estresse tibial/fratura por stress, lesão muscular, hérnias fasciais, trombose venosa relacionada ao exercício, endofibrose da artéria ilíaca externa e aprisionamento da artéria poplítea. A ressonância magnética sem dúvida é o exame de escolha para exclusão da maior parte dos diagnósticos mencionados. Porém, na suspeita de aprisionamento da artéria poplítea, é necessário realizar angio RM ou angio TC.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da SCCE é formado por um tripé: 1) quadro clínico; 2) exclusão de diagnósticos diferenciais e 3) manometria por agulha. Os valores classicamente considerados para o diagnóstico por manometria são: >15mmHg pré exercício, >30 mmHg após 1 minuto de exercício, >20mmHg após 5 minutos de exercício e > 15mmHg após 15 minutos de exercício. Contudo, a manometria apresenta diversas limitações como: necessidade de mais de uma medida, o grau de flexão do tornozelo interfere na medida, dificuldade no posicionamento da agulha no compartimento e baixa disponibilidade. Por fim, alguns autores ainda mencionam a resposta à fasciotomia como padrão-ouro.

Recentemente, a ressonância magnética tem sido usada com sucesso para o diagnóstico da SCCE. O protocolo utilizado pelo laboratório Fleury realiza a RM antes e após o exercício para a realização desse diagnóstico. Antes do exercício, o paciente deve descansar por 30 minutos, seguido da realização da RM convencional. Em seguida, o paciente realiza corrida na esteira até atingir a dor máxima tolerada. Ao atingir esse ponto, deve interromper a corrida e realizar nova RM. No caso da RM pós exercício, será avaliado principalmente o corte axial T2 com supressão de gordura, avaliando a intensidade do sinal nos compartimentos da perna. A imagem a seguir mostra a RM realizada pré exercício (imagem A) e pós (imagem B). Note o aumento de sinal nos compartimentos anterior e lateral de ambas as pernas.

TRATAMENTO

O tratamento da SCCE é eminentemente cirúrgico, através da fasciotomia. A fasciotomia pode ser realizada de forma aberta ou endoscópica e apresenta 80% de bons resultados.

As opções de tratamento não cirúrgico são, além de analgésicos, redução da intensidade do treinamento e fisioterapia. Recentemente alguns autores propuseram a modificação de técnicas na corrida, como evitar aterrissar com dorsiflexão excessiva do tornozelo, que pode elevar as pressões intracompartimentais na perna.