Por dentro da especificidade do Basquete

Conhecer a especificidade de cada esporte e a relação com as lesões específicas, sejam atletas amadores ou profissionais, faz parte do trabalho da nossa Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE).

 

O Basquete é um esporte que envolve mudanças repentinas de direção, deslocamentos laterais, saltos, aterrissagens, arremessos realizados com muita intensidade e repetição.

 

Como Diretor Médico da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e frente a uma equipe multidisciplinar, buscamos entender cada vez melhor o esporte e promover a prevenção de lesão no basquete. Na Disciplina de Medicina Esportiva da UNIFESP, realizamos um estudo de revisão sistemática integrativa da epidemiologia das lesões NO BASQUETE, que descrevo abaixo:

 

Neste estudo, foram analisadas mais de 12.000 lesões no basquetebol dos 11 estudos incluídos, e os resultados mostraram que houve mais lesões nos membros inferiores (63,7% das lesões), independentemente do sexo (masculino, 65,2%; feminino, 68,4%) ou nível (profissionais 64,7%, master 74,5% e crianças e adolescentes 62,5%). (tabela.1)

 

Tabela 1. Número de lesões por segmento corpóreo no basquete.

 

 
Tornozelo e pé  4.156  32,1
Tornozelo  2.832  21,9
     683     5,3
Não determinado      641     4,9
Joelho  2.305  17,8
Coxa, quadril, perna  1.784  13,8
Cabeça e pescoço  1.468  11,3
Mãos, dedos, punho  1.133  8,7
Tronco e coluna  975  7,5
Ombro, braço e antebraço  585  4,5
Outros  554  4,3
Total  12.960  100,0

 

Estudo da WNBA e NBA, por seis temporadas, concluiu que os membros inferiores (65%) eram o local mais comum de lesão no basquete. Das 5.272 lesões da categoria profissional incluídas neste estudo, 3.411 ocorreram em membros inferiores, representando 64,7% do total de lesões relatadas.

 

De acordo com a região anatômica específica, a maior proporção das lesões ocorreu no tornozelo (2.832 lesões, 21,9%), seguido do joelho (2.305 lesões, 17,8%). Nos profissionais, as lesões de tornozelo e joelho foram responsáveis por 17,5% e 19,5% de todas as lesões, respectivamente.

 

Com relação às lesões de membros superiores, as lesões em mãos, dedos e punhos (1133, 8,7%) predominaram nas lesões de ombro, braço e antebraço (585, 4,5%). O percentual de lesões em membros superiores aumenta quando a amostra é obtida em pronto-socorro. Quando analisadas separadamente as lesões em mãos, dedos e punhos entre crianças e adolescentes e profissionais, ocorreram 662 lesões em crianças e adolescentes e 454 ocorreram em profissionais.

 

Considerando a importância do aumento no diagnóstico das concussões, uma breve análise das lesões nesta região anatômica é válida, embora associada às lesões cervicais. No total, ocorreram 1.468 feridos nessa região, o que representa 11,3% do total de feridos. No sexo feminino, 417 lesões (9,7%) ocorreram nesta região, e no sexo masculino 384 lesões (8,3%) ocorreram nesta região. Há uma tendência de crianças e adolescentes sofrerem mais lesões na cabeça e pescoço do que na categoria profissional. Há também um estudo que mostra que essa é uma tendência em jogadores adolescentes de basquete do sexo masculino devido ao aumento do nível de contato físico agora observado entre jogadores dessa categoria.

 

Um total de 975 lesões ocorreram no tronco e na coluna, representando 7,5% de todas as lesões. Dessas 975 lesões, apenas 371 ocorreram em crianças e adolescentes e 586 em profissionais. De acordo com Starkey, em um estudo com jogadores da NBA, apenas 6,9% de todas as lesões ocorreram nessa região.

 

Frente a esses achados epidemiológicos , a equipe multidisciplinar precisa desenvolver junto à parte técnica e preparação física, os programas de prevenção de lesão com ênfase na prevenção das lesões do tornozelo e joelho, principalmente mantendo a amplitude de dorsiflexão do tornozelo e prevenindo o valgo dinâmico do joelho. Atualmente exercícios proprioceptivos e de fortalecimento muscular ajudam a diminuir a incidência das lesões. A CBB lançou programa denominado CBB12 COM exercícios específicos para auxiliar na prevenção.

 

Carlos Vicente Andreoli
Presidente da SBRATE 2021
Diretor Médico da CBB
Professor Adjunto do Departamento de Ortopedia da UNIFESP