Jean Klay Santos Machado
Delegado regional Norte da Sociedade Brasileira de Traumatologia do Esporte
Presidente da Osteosynthesis Trauma Care Foundation – Brazil
O lutador americano de MMA Chris Weidman aos 17 segundos do primeiro round durante a luta contra Uriah Hall, válida pelo UFC 261 no sábado (24/04/2021), sofreu uma fratura na diáfise da tíbia direita (figura 1). A cena chocou todos que assistiam o combate, sobretudo pela grande deformidade que é comum neste tipo de lesão, ainda mais pelo fato de ter sido a mesma lesão sofrida pelo lutador brasileiro Anderson Silva durante luta contra o próprio Weidman em 2013.
Figura 1 – Momento da fratura da tíbia direita do atleta Chris Weidman
Além disso o esporte em questão, Mixed Martial Arts ou simplesmente MMA têm um alto índice de lesões. A literatura científica traz dados que mostram cerca de uma lesão por atleta a cada 4 lutas. As mais comuns são as da face, cabeça, mãos e pés. 1,2, 3, 4
Especificamente a sofrida por Weidman, trata-se de uma fratura na diáfise da tíbia, cujo tratamento clássico é cirúrgico e dentre as técnicas existentes, aquela que utiliza uma haste intramedular bloqueada (figura 2) é considerada como o padrão ouro na comunidade científica. Esta técnica consiste na introdução de um implante metálico com diâmetro médio de 10mm, bloqueado por parafusos (normalmente 2) em cada extremidade da haste. 5
No pós-operatório imediato é permitido que o paciente deambule com o auxílio de muletas, seguido de reabilitação.
1. Consolidação da fratura comprovada clínica e imagenologicamente.
2. Recuperação do arco de movimento.
3. Restabelecimento da força muscular, não devendo haver discrepância com o membro contralateral acima de 15% e com os antagonista acima de 40%.
4. Treinamento prévio com gesto esportivo específico.
Figura 2 – Fratura da tíbia tratada com haste intramedular bloqueada.
O retorno ao esporte após fratura da tíbia ocorre em aproximadamente 90% dos atletas e depende de vários fatores:
1. Consolidação da fratura comprovada clínica e imagenologicamente.
2. Recuperação do arco de movimento.
3. Restabelecimento da força muscular, não devendo haver discrepância com o membro contralateral acima de 15% e com os antagonistas acima de 40%.
4. Treinamento com gesto esportivo específico
O tempo de retorno, para os pacientes tratados cirurgicamente, varia na literatura de 12 a 54 meses.6
A complicação pós operatória mais comum é dor anterior no joelho (20-54%).
A taxa de reoperação média é de 34% com destaque para retirada do implante.
O principal fator preditivo para o não retorno ao esportes está relacionado à lesão de partes moles, com destaque para as fraturas expostas. Em contrapartida a presença de fratura da fíbula concomitante está associada com maiores taxas de retorno ao esporte.6
1. Jensen AR, Maciel RC, Petrigliano FA, Rodriguez JP, Brooks AG. Injuries Sustained by the Mixed Martial Arts Athlete. Sports Health. 2017;9(1):64–9.
2. Koutures C, Demorest RA. Participation and Injury in Martial Arts. Curr Sports Med Rep. 2018 Dec;17(12):433–8.
3. Lystad RP, Gregory K, Wilson J. The Epidemiology of Injuries in Mixed Martial Arts: A Systematic Review and Meta-analysis. Orthop J Sports Med. 2014 Jan;2(1):2325967113518492.
4. Thomas RE, Thomas BC. Systematic review of injuries in mixed martial arts. Phys Sportsmed. 2018 May;46(2):155–67.
5. Nwosu C. Tibial fractures following participation in recreational football: Incidence and outcome. Niger J Clin Pract. 2019 Apr;22(4):492–5.
6. Robertson GAJ, Wood AM. Return to Sport After Tibial Shaft Fractures: A Systematic Review. Sports Health. 2016 Jul;8(4):324–30.