O voleibol, atualmente, é o segundo esporte mais praticado no Brasil contando aproximadamente com 15,3 milhões de praticantes.
O voleibol foi criado em 1895 pelo americano William G. Morgan, em Massachusets, nos Estados Unidos, sendo que no Brasil foi praticado pela primeira vez no Colégio Marista do Recife em 1915. Nos Jogos Olímpicos de Tokyo, 1964, torna-se esporte olímpico e, desde então, o Brasil participou de todas as edições olímpicas e, atualmente, é um esporte bicampeão olímpico masculino e feminino.
Baseado em dados coletados e não publicados pela F.I.V.B., em 2015 durante a World League e o Grand Prix (competições indoor em alto nível masculino e feminino), notou-se que as ações pela conquista do ponto em média duravam 6-8 segundos para o masculino e 7-9 segundos para o feminino. Outro dado coletado é que o tempo de jogo corresponde a 15% da duração do tempo total do jogo, resultando aproximadamente 1:6 a proporção entre ação e descanso. Estes dados refletem o fato de que as ações são muito rápidas, de muita intensidade, com períodos de recuperação curtos.
Diante destas características do jogo, é importante que a fase de preparação (treinamento) venha trazer ao praticante da modalidade adaptações cardiovasculares e musculoesqueléticas que possam contemplar o bom desempenho, ou seja, melhorar a capacidade aeróbica e anaeróbica, bem como a capacidade muscular, através de treinamento de força.
Saltar e aterrissar são ações constantes e de muita repetição durante o jogo, portanto o trabalho pliométrico também deve ser instituído pois, segundo Ziv e Lidor (2010), você melhora a qualidade do salto tanto na impulsão vertical como na fase da aterrissagem.
Do ponto de vista epidemiológico as lesões agudas no voleibol apresentam menor incidência quando comparadas a outras modalidades como futebol, basquete e handebol principalmente (Bere Ecols, 2015).
Em compensação as lesões ditas por esforço repetitivo apresentam um maior risco de incidência no voleibol. Há uma diferença, também, quando observamos o voleibol de praia e o voleibol de quadra, principalmente com relação às entorses de tornozelo, bem menos frequentes na areia (Bahr, 2009).
A lesão mais frequente no voleibol é a tendinopatia patelar, tendo o estudo de Clarsen Ecols, 2015, demonstrado que em algum momento da sua vida esportiva, adolescentes jogadores de elite foram acometidos em 36%.
Considerando-se o número de praticantes em nosso meio é fundamental o diagnóstico precoce, o tratamento adequado e medidas preventivas através de um processo interativo proposto por Van Mechelen.
As lesões do joelho na prática do voleibol pode ser dividas em duas categorias, de acordo com o mecanismo de lesão, seriam as lesões traumáticas agudas e as lesões por esforço repetitivo ou “overuse.”
A lesão do ligamento cruzado anterior (L.C.A.) é a mais comum, causada por trauma agudo entre as atletas do sexo feminino, de acordo com Ferretti Ecols (1992) e Hootman Ecols (2007).
O joelho do saltador, por sua vez, é a lesão mais comum, ocorrida no atleta masculino, devido ao esforço repetitivo (Lian Ecols, 2007).
Tem sido demonstrado através de pesquisa que atletas com vertical drop jump (V.D.J.) positivo, ou seja, aquele grupo que apresenta no teste do salto do banco um “valgo” exagerado e assimétrico, uma maior possibilidade de lesionar o L.C.A. (Aerts Ecols, 2013) durante a prática do voleibol, conforme figura abaixo.
Uma vez constatada esta deficiência neuromuscular estas atletas devem imediatamente ser submetidas a tratamento específico, basicamente com fortalecimento de core, glúteos e reequilíbrio muscular entre quadríceps e isquiotibais.
As lesões do L.C.A, isoladas ou associadas às lesões meniscais e osteocondrais, devem ser abordadas cirurgicamente.
A queixa mais frequente do atleta de voleibol, tanto no feminino como no masculino, é a dor na região anterior do joelho e está diretamente relacionada com o excesso de saltos, imposto pela prática da modalidade. É crucial no diagnóstico diferenciar as causas de tal queixa.
A tendinopatia patelar e a síndrome femoropatelar raramente coexistem, mas podem em um momento inicial gerar dúvidas quanto a um diagnóstico correto.
A dor localizada no tendão ocasionado por uma sobrecarga, mais comumente na fase excêntrica do movimento, acompanhada de palpação local dolorosa e resultando em uma limitação de performar, são as três características mais importantes para o diagnóstico da tendiopatia patelar (Rios Ecols, 2014). Na síndrome femoropatelar a queixa de dor é mais difusa e podemos ter uma palpação dolorosa peripatelar, principalmente das facetas medial e lateral.
Características intrínsecas dos atletas, como habilidade para saltos mais altos e diminuição da dorsiflexão do tornozelo no mesmo membro, contribuíram para uma maior incidência da afecção (Vines Ecols, 2013).
Outra observação interessante é o predomínio da tendiopatia patelar no joelho direito, em função de haver uma maior solicitação mecânica (excêntrica – concêntrica) no momento do início do salto, conforme figura abaixo (2).
É importante, também, mencionar com relação à localização da dor que não raramente pode ser referida a nível do polo superior da patela, aí então acometendo o tendão quadricipital.
Geralmente, o exame radiológico se faz necessário se suspeitamos de alguma sequela de osteocondrose ao nível do joelho.
Os exames de ultrassonografia e ressonância magnética apresentam bastante acurácia para o diagnóstico da tendiopatia patelar.
O tratamento da tendiopatia patelar passa por se pesquisar fatores intrínsecos e extrínsecos de risco diretamente ligados ao atleta e à sua prática diária de treinamentos e jogos.
Bahr Ecols, em 2006, mostrou em um estudo clínico randomizado que os resultados da cirurgia aberta não foram superiores ao tratamento conservador.
Geralmente, a abordagem terapêutica conservadora em jogadores de elite é longa e frustrante muitas vezes, devido à persistência da dor, diminuindo consequentemente a performance atlética.
O uso de anti-inflamatórios não hormonais são inapropriados para tratamento da tendiopatia e a utilização de outros agentes como corticoide, polidocanol e anestésicos locais tem o seu uso controverso.
A tentativa de minimizar a dor pode ser feita através da diminuição ou até mesmo afastamento da atividade esportiva; associada à medidas eletroterapêuticas; de crioterapia várias vezes ao dia por 15 minutos; acrescidas de retorno ao treinamento com trabalho isométrico progressivo e posteriormente exercícios excêntricos com cargas crescentes, que foram preconizados por (Kongsgaard Ecols, 2009); e devem ser encorajadas por pelo menos seis meses.
O tratamento cirúrgico artroscópico nos dias de hoje são realizados com mais frequência, podendo oferecer uma abordagem posterior ao tendão patelar com melhor visualização das alterações estruturais e correção das mesmas.
Com relação à utilização de ortobiológicos, sobretudo na tendiopatia patelar, já existem estudos clínicos encorajando o uso do PRP (AMJ Sports Medicine, 2014).
Referências Bibliográficas:
Bahr R and Resser JC. (2003) Injuries amog world-class professional beach volleyball players. The Fédération Internationale de Volleyball Beach Volleyball Injury Study. Am J Sports Med, 31(1), 119-125.
Ziv G and Lidor R. (2010) Vertical jump in female and male volleyball players: a review of observational and experimental studies. Scand J Med Sci Sports, 20(4), 556-567.
Bahr R. (2009) No injuries, but plenty of pain? On the methodology for recording overuse symptoms ins sports, Br J Sports Med, 43(13), 966-972.
Charsen B, Bahr Heymans MW, et al. (2015) The prevalence and impact of overuse injuries in five Norwegian sports: application of a new surveillance method, Scand J Med Sci Sports, 25(3), 323-330.
Ferretti A, Papandrea P, Conteduca F, et al. (1992) Knee ligament injuries in volleyball players. Am J Sports Med, 20(2), 203-207.
Visnes H and Bahr R. (2013) Training volume and body composition as risk factors for developing jumper´s knee among young elite volleyball players. Scand J Med Sci Sports, 23(5), 607-613.
Aerts I, Cumps E, Verhagen E, Verschureren J and Meeusen R. (2013) A systematic review of different jump landing variables in relation to injuries. J Sport Med Phys Fit, 53, 509-519.
Hootman JM, Dick R and Agel J. (2007) Epidemiology of collegiate injuries for 15 sports: summary and recommendations for injury preventions initiatives, J Athet Train, 42, 311-319.
Bahr R, Fossan B, Loken S and Engebretsen L. (2006) Surgical treatment compared with eccentric training for patellar tendinopathy (jumper´s knee). J Bone Joint Surg, 88, 1689-1698.
Kongsgaard M, Kovanen V, Aagaard P, et al. (2009) Corticosteroid injections, eccentric decline squat training and heavy slow resistance training in patellar tendinopathy. Scand J Med Sci Sports, 19, 790-802.
Rio E. Moseley L, Purdam C, et al. (2014) The pain of tendinopathy: physiological or patholphysiological? Sports Med, 44, 9-23.
-Reeser C, Jonathan and Bahr Roald, Volleyball Second Edition.