SBRATE Comenta – Lesão de Conor McGregor

Por Gustavo Waldolato
Ortopedista e Traumatologista, subespecialista em cirurgia do Trauma ortopédico e joelho.
Membro SBOT, SBRATE, SBTO, SBCJ e AO Trauma Latin America.
HU Ciências Médicas de Minas Gerais e H. Vila da Serra (Belo Horizonte, MG).

 

 

 

 

 

A esperada luta de MMA no UFC 264 entre McGregor e Poirer acabou com um final infeliz. Enquanto McGregor dava um passo para trás para recuperar o equilíbrio, sofreu uma torção ocasionando fratura dos ossos da perna.

Com um movimento semelhante a entorse do tornozelo, o lutador apresentou muito possivelmente uma fratura de tíbia e fíbula. O deslocamento, que seria ligamentar pelo movimento de entorse, foi capaz de fraturar possivelmente o terço distal dos ossos da perna. Este tipo de lesão é semelhante ao que ocorreu com o brasileiro Anderson Silva e o americano Chris Weidman. No entanto, embora a lesão tenha ocorrido nestes dois últimos com um trauma direto, parece que essa do irlandês foi causada por uma força rotacional que ocasionou a fratura.

 

(Fonte: globoesporte)

As semelhanças entre os três casos não estão apenas em serem fraturas no mesmo osso, mas também por terem sido ocasionadas por traumas de relativa baixa energia.

Esses fatores podem sugerir uma fratura por estresse com características semelhantes pelo número elevado de sobrecargas cíclicas de intensidade inferior ao strength ósseo máximo sobre o tecido ósseo não patológico, por esclerose cortical, espessamento periosteal e alteração da densidade óssea cortical.

Essa fratura mais distal dos ossos da perna é de tratamento cirúrgico, principalmente por ser em um atleta e pode ser conduzida por duas estratégias principais.

Classicamente com um tratamento minimamente invasivo com uso de placa de baixo perfil, em ponte na tíbia, ou com redução aberta e fixação interna com compressão interfragmentar do foco fraturário.

(Fonte: AO Trauma)

Com o desenvolvimento de hastes de multibloqueio e auxílio de parafusos “poller”, uma terceira alternativa foi apresentada. A possibilidade de se conseguir uma redução minimamente invasiva da região metafisiodiafisária alargada e uma fixação distal estável o suficiente, são fatores que permitem uma recuperação funcional mais rápida.

 

 


(Fonte: AO Trauma)

Parafusos de bloqueio (parafusos Poller) podem ser colocados no fragmento distal para guiar a haste e corrigir a deformidade da fratura. Esses parafusos são colocados de anterior para posterior para corrigir as deformidades do plano coronal e de medial para lateral para corrigir as deformidades do plano sagital.

Eles podem ser deixados para estabilidade ou removidos após a inserção da haste. Dessa forma, além de auxiliarem na redução da fratura, direcionam a haste durante a sua inserção, controlam deformidades angulares e aumentam a estabilidade da estrutura osso-implante.

(Fonte: AO Trauma)

Além disso, é possível utilizar a entrada da haste por acesso extra articular parapatelar lateral com luxação de patela medialmente ou com instrumentais que permitam a entrada supra patelar, ao invés da entrada transtendão patelar. Dessa forma, com o membro em semi-extensão há manutenção da redução e posicionamento da fratura durante toda a fresagem e colocação da haste intramedular.

(Fonte: Zelle BA, 2015)

(Fonte: Stella M, 2019)

O lutador irlandês foi submetido ao procedimento cirúrgico na segunda-feira, dia 12 de julho, com sucesso.

Torcemos para completa recuperação do atleta.

Referências:
1 – https://ge.globo.com/combate/noticia/ufc-264-conor-mcgregor-fratura-o-tornozelo-ao-tentar-golpear-dustin-poirier-e-luta-e-encerrada.ghtml

2- Astur DC, Zanatta F, Arliani GG, Moraes ER, Pochini AC, Ejnisman B. Fraturas por estresse: definição diagnóstico e tratamento. Rev Bras Ortop. 2016;51(1):3-10.

3 – https://surgeryreference.aofoundation.org/orthopedic-trauma/adult-trauma/distal-tibia/extraarticular-simple-fracture/mio-intramedullary-nail#reduction

4- Talerico M, Ahn J. Intramedullary Nail Fixation of Distal Tibia Fractures: Tips and Tricks. J Orthop Trauma. 2016 Nov;30 Suppl 4:S7-S11.

5 – Hannah A, Aboelmagd T, Yip G, Hull P. A novel technique for accurate Poller (blocking) screw placement. Injury. 2014 Jun;45(6):1011-4.

6- Anderson TRE, Beak PA, Trompeter AJ. Intra-medullary nail insertion accuracy: A comparison of the infra-patellar and supra-patellar approach. Injury. 2019 Feb;50(2):484-488.

7 – Zelle BA, Boni G, Hak DJ, Stahel PF. Advances in Intramedullary Nailing: Suprapatellar Nailing of Tibial Shaft Fractures in the Semiextended Position. Orthopedics. 2015 Dec;38(12):751-5.

8- Stella M, Santolini E, Felli L, Santolini F, Horwitz DS. Semiextended Tibial Nail Insertion Using an Extraarticular Lateral Parapatellar Approach: A 24-Month Follow-up Prospective Cohort Study. J Orthop Trauma. 2019 Oct;33(10):e366-e371.